Ciência torna ex-aprendiz coordenador do campus da FOP

 

Década de 1970. Muitos garotos de Piracicaba, um dos principais municípios do Estado de São Paulo, ingressavam na Guarda-Mirim (atual Instituto Formar) da cidade, corporação que tinha como objetivo inserir adolescentes no mercado de trabalho. Quanto melhor a qualificação, maior a chance de trabalhar numa boa empresa, como a Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP). O atual coordenador do campus da faculdade, Anderson Laerte Teixeira, estava entre os garotos e, entre as melhores recordações, guarda as primeiras orientações profissionais de sua vida, recebidas de funcionários da biblioteca da faculdade. “Estou coordenador do campus desde 2010, após uma trajetória anterior como diretor de serviços gerais na mesma coordenadoria.”
Cresceu em meio à literatura especializada, atraído por autores responsáveis pela decisão em formar-se em biologia. Entre os nomes, Otto Bier, de microbiologia, e Leninger, de bioquímica. “Eles fazem parte da bibliografia do curso de odontologia e eu tinha muita curiosidade em entendê-los. Tempo depois fui cursar biologia e lá estavam eles na bibliografia de minha área”. Mesmo consciente da lista de pessoas receptivas a sua chegada, ainda aos 13 anos idade, ele destaca as bibliotecárias Ivani e Jurema.
A área de Otto Bier seria sua segunda experiência de trabalho na FOP. Quer coisa melhor para um leitor cativo de apenas 18 anos que acabava de ser contratado como funcionário e não mais como aprendiz da faculdade? Foi na área de Microbiologia da FOP, onde se realiza profissionalmente até hoje, que conheceu o professor José Francisco Höfling, uma das pessoas mais importantes em sua formação profissional. “Posso dizer que o contato com os livros e o laboratório é um dos grandes responsáveis pela escolha do curso.”
O motivo para trajetória bem-sucedida não está no presente nem no futuro, mas num passado rico em ensinamentos. E indagado sobre a linha ascendente traçada por ele, Anderson relembra o lema do comandante Ciappina na Guarda Mirim (Instituto Formar): “A disciplina é a base fundamental sobre todas as coisas”. Em seguida, Anderson complementa: “Creio que o grande elemento para minha condução até esta função talvez tenha sido ter entendido e exercido o lema”.
A educação oferecida pela mãe foi a tônica para chegar onde está. O falecimento de seu pai quando ele tinha apenas 14 anos de idade fez com que a mãe redobrasse os cuidados com os filhos. “Aproveito para provocar as pessoas que acham que o papel de educar os filhos é da escola, pois estão terceirizando a educação de seus filhos. Pois bem, a escola tem a obrigação de ensinar, transmitir cultura e conhecimento, mas a educação se traz de casa.”
Outra característica que pode ter feito com que fosse indicado ao cargo foi a imparcialidade, em sua opinião, um princípio básico na administração pública, usado como balizador em suas ações. “Costumo dizer que meu partido é a FOP; tenho certeza que a escolha do meu nome pelo professor Jacks, diretor da FOP, se pautou nisso”.
Apesar de o cargo de coordenador do campus requerer dedicação exclusiva, Anderson procura dar atenção às atividades laboratoriais em casos de emergência. Em sua opinião, lidar com docentes, alunos e funcionários, não é tarefa simples, pois todos têm suas necessidades. “E entendo todas elas. Neste sentido, quem estiver neste cargo tem que se desdobrar para atender a todos sem distinção”, revela.
Todos os dias, o campus de Piracicaba recebe mais de 2 mil pessoas, entre a comunidade interna e a externa, formada por pacientes e visitantes, que expressa o maior público, segundo Anderson. Diante disso, Anderson tem uma agenda totalmente notificada, além dos imprevistos que não podem ficar sem solução. Com o mesmo sorriso, ele manifesta a felicidade de trabalhar com uma equipe comprometida com a Universidade. “Há situações de congressos e jornadas em que o público dobra, mas estamos planejando melhorias para atender melhor os usuários do campus.”
Além da estrutura à beira-rio, com 40 laboratórios, refeitório, cantina, biblioteca e extensa área verde e de lazer, a FOP também administra, no centro da cidade, um colégio destinado a cursos profissionalizantes, uma clínica odontológica para estágio e um Centro de Especialidades Odontológicas (CEO), que funciona em parceria com a Prefeitura de Piracicaba.
Além das atividades habituais, Anderson não abre mão de aperfeiçoar e ampliar conhecimentos tanto em sua área de formação quanto na administrativa. Duas vezes por semana, seu local de trabalho é no campus de Campinas, onde participa do Programa de Desenvolvimento Gestores (PDG), curso oferecido a atuantes em cargos de gerência. “O PDG é uma importante iniciativa da Unicamp na qualificação de seus gerentes. Muitas das ferramentas e procedimentos passados são de extrema importância para o aprimoramento dos participantes, além de ampliar a relação com nossos pares, pois é um ambiente onde conhecemos colegas de trabalho. Muitas vezes só nos relacionamos por telefone ou e-mail.”
Quem já se sentou para um dedo de prosa à beira-rio e na tranquilidade de Piracicaba entenderá as razões que Anderson teria para iniciar um projeto de qualidade ambiental. Antes de qualquer sinal de convite para a coordenadoria ou até mesmo de conseguir se formar em biologia, aos 40 anos, se interessava pelo tema. A inquietação o fez realizar um estudo sobre o consumo de água de rejeito na produção de água destilada para uso em laboratórios da FOP.
Na época, teve a felicidade de apresentar o estudo ao então diretor da FOP, professor Francisco Haiter Neto, que levou ao conhecimento da Pró-Reitoria de Desenvolvimento Universitário (PRDU). A aprovação imediata levou a pró-reitoria a investir na aquisição de equipamentos de osmose reversa para minimizar o descarte de água de rejeito.
Outro projeto importante também foi o plantio de mudas em área degradada às margens do córrego que passa no campus da FOP e se avizinha com outros dois campi, o da Escola de Engenharia de Piracicaba (EEP) e da Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiroz (Esalq-USP). Essa iniciativa foi desenvolvida com os amigos da coordenadoria.
A iniciativa deve refletir em benefício para a comunidade de Piracicaba e para o próprio Anderson, que, apesar de se realizar com um bom banho de mar, em momentos de lazer, prefere as áreas campestres, principalmente as represas próximas a Piracicaba. “Esta cidade é muito favorável para o lazer, estamos a poucos quilômetros de São Pedro, Águas de São Pedro e outras cidades com muitos atrativos turísticos.”
 
Matéria publicada na Edição 552 do Jornal da Unicamp
Texto: Maria Alice da Cruz
Fotos: Antonio Scarpinetti

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